Mike Weiss – à conversa com o homem forte da Nervous Records!

Mike-Weiss

O icónico logótipo do boneco “nervoso” da Nervous Records é instantaneamente reconhecido e tornou-se um ícone na música house. Surpreendentemente, o merchandising com o logótipo da editora foi lançado antes mesmo do primeiro disco, como nos revelou Mike Weiss, o fundador da label.
Nesta entrevista descontraída, realizada nos escritórios da Nervous Records em Nova Iorque, exploramos estas revelações, o cenário digital e o estado atual da música eletrónica nos Estados Unidos.


Gostaria de começar pela história das tuas influências pessoais e a música. Eu sei que começaste uma editora com o teu pai…

Mas que influências e quais os artistas que te inspiraram a criar a editora e a envolveres-te na música?
Bem, o meu pai era um distribuidor, principalmente de música, nas décadas de 70 e 80. Mas sempre teve uma paixão pela música no lado da produção, tendo uma editora. Ele fundou uma editora de música disco chamada Sam Records. E foi precisamente quando a música disco estava em grande destaque na América, penso que em todo o mundo. Portanto, para mim, foi um negócio muito empolgante, porque eu era muito jovem, mas já conseguia frequentar algumas das maiores e mais famosas discotecas de Nova Iorque.
Fui ao Studio 54, Xenon, Electric Factory… entre outras. Nova Iorque sempre teve excelentes discotecas e desde tenra idade fui exposto a elas e sempre achei muito divertido. A música que lá tocava era muito energética e emocionante. Entretanto entrei na faculdade de direito, mas quando terminei e regressei a Nova Iorque, foi um momento muito significativo para as discotecas.
No final dos anos 80, o cenário estava em ebulição, com uma discoteca muito na moda no centro, no Lower East Side, onde Frankie Knuckles e David Morales costumavam tocar… e depois havia o Limelight, que foi uma das primeiras discotecas de techno de Nova Iorque.
Foi uma cena enorme. As pessoas vestiam-se de forma extravagante, havia até pessoas nas janelas (risos…). Era bastante agitado.
Foi nessa altura, no final dos anos 80, que a música house começou a entrar em Nova Iorque. Não ouvíamos realmente música house nas maiores discotecas durante os fins de semana, porque ainda eram bastante comerciais, mas naquela altura a maioria das discotecas estava aberta durante a semana e era então que se ouvia muita música house. Por exemplo, havia uma discoteca chamada Bentley’s, que era principalmente uma discoteca de R&B no centro de Manhattan, por isso era um pouco comercial, mas às terças-feiras, uma senhora chamada Suzanne Barsh organizava festas, e ela estava muito à frente, interessada em moda e música, mas atraía um público muito cool, e era aí que se tocava muita música house, e, era tão fresco e entusiasmante!

Tiveste então uma viragem do Direito para música…
Sim, eu tinha frequentado a faculdade de direito, mas, devido à experiência que tive na indústria da música, e ter crescido numa família ligada à música, parecia-me natural, sempre que ouvia uma música boa, queria saber de quem era, perceber do que se tratava. Criar uma editora foi uma progressão natural. Se se ama a música e se compreende como a vender, é natural tentar. Mas claro que naquela altura era apenas vinil e cassetes…

E primeiro com o hip-hop…
Sim, porque o hip-hop estava muito em Nova Iorque no final dos anos 80. Todas as discotecas cool estavam a tocar… e não era como o hip-hop de hoje, que é muito direcionado para um certo tipo de som.
Em Nova Iorque, naquela altura, era só hip-hop e os artistas estavam todos aqui… KRS-One no Bronx, Big Daddy Kane, Biz Markie… podias ir a uma discoteca em qualquer noite e os De la Soul estarem no microfone.
Mas a primeira tentativa de entrar no hip hop não correu tão bem, mas depois criei o logótipo “nervous” porque, na comunidade hip hop, a palavra “nervous” era a pior possível. Era como se fosse negativa, aquelas roupas são “nervous”, aquela música é “nervous”… significava que algo era mesmo mau… e eu sentia que tinha de fazer algo para ser diferente, tornar a minha editora diferente. Por isso pensei em escolher a pior palavra possível (risos…)

Enviei o logotipo por fax para algumas lojas em Londres, a dizer que a Nervous Records estava a chegar, mas não tinha nenhuma música….

Não era nada cool…
Não, de todo, era o oposto. E depois pensei, eu ia às lojas de discos às sextas-feiras e em Manhattan era o dia em que estavam todas cheias. Havia cerca de cinco lojas principais, e íamos lá buscar os novos lançamentos. Mas nas paredes só se viam nomes. Nada se destacava. Então, decidi criar um desenho animado para que se destacasse. Na verdade, criei o logotipo, criei a editora, sem nenhum lançamento discográfico. E enviei o logo por fax para algumas lojas em Londres que, na altura, para os nova-iorquinos, eram sempre eles que tinham as faixas boas. Em Londres, os nova-iorquinos tinham as faixas boas… As pessoas querem sempre as importações! É assim que as coisas funcionam… é sempre melhor quando é de fora.
Então enviei esse logótipo por fax para algumas lojas tarde, dizendo que a Nervous Records estava a chegar, mas não tinha nenhuma música. Eles começaram a fazer t-shirts piratas por lá… Foi louco. Na verdade, consegui um grande adiantamento por uma t-shirt antes de ter qualquer disco. Não conseguia acreditar, e o tipo que o fez era honesto.
Alguém disse-me que o logótipo estava a ser pirateado. Não acreditei neles, sabes, isto foi em 1991. Não era assim tão fácil. Não havia redes sociais. Não podia ir online e ver… Então, o tipo contactou-me. Ele foi honesto. Disse: “Olha, vi o teu logotipo, peguei nele, alguém disse-me que eras tu, podemos fazer um acordo de licenciamento?” Eu disse que sim, e depois é que comecei a tratar da música!
Os primeiros três lançamentos foram Roger Sanchez, Kenny Dope & Louie Vega e Todd Terry. Esses primeiros três lançamentos foram muito bons, Swing Kids e os Latin Kings. Cresceu tão rapidamente, e quando o Ministry of Sound abriu pela primeira vez, fui lá para uma festa em fevereiro, apenas alguns meses depois de ter aberto, e havia uma enorme bandeira à frente do clube que dizia Nervous Records!
Depois voltei ao hip-hop de forma intensa. Assinei com o grupo Black Moon de Brooklyn e, imediatamente, eles foram um sucesso nos Estados Unidos.
Sinto sempre que subimos muito rapidamente e é como se estivéssemos em órbita desde então. Passaram-se 32 anos, mas sinto que a empolgação nunca realmente parou, porque gosto disto. A energia é sempre muito boa, a excitação está sempre presente!

Sinto sempre que subimos muito rapidamente e é como se estivéssemos em órbita desde então. Passaram-se 32 anos!

Pelo caminho houve o impacto do digital…
Sim, desde que o Napster surgiu pela primeira vez a indústria da música meio que se desmoronou e foi como “Meu Deus”, porque estávamos atrasados no lado digital. Mas assim que nos atualizámos no digital a indústria da música ficou muito saudável.

Como é que concilias o lado criativo com a gestão da editora?
Tenho uma equipa muito boa. Antes da pandemia estavámos todos aqui no escritório mas agora estão todos a trabalhar remotamente e estamos sempre em contato… Andrew Salsano, excelente profissional no A&R, e Anthony Savino… são excelentes membros da equipa. Eles realmente ajudam muito.

E tu achas que a Nervous vai continuar a ser uma editora independente ou se receberes algumas propostas pode mudar? A Strictly Rhythm foi vendida à BMG…
A Nervous Records tem sido abordada algumas vezes ao longo dos anos, inclusive por grandes editoras, como aconteceu com a Strictly Rhythm e a BMG. No entanto, optei por continuar como uma editora independente. Isso muitas vezes envolve abdicar de quantias substanciais de dinheiro que as grandes editoras podem oferecer, mas permite-te manter o controlo sobre o rumo e a visão da tua editora.
Uma das razões para permanecer independente é a capacidade de manter a autenticidade e a flexibilidade na tomada de decisões. As grandes editoras podem influenciar e mudar a direção criativa de um projeto. Quando trabalhas com artistas, é importante permitir que mantenham a sua visão artística. Quando se lida com editoras maiores, de repente tens dez pessoas diferentes a querer tomar decisões sobre como a música deve soar.
Além disso, a Nervous Records tem a capacidade de se adaptar às mudanças na sonoridade e nas tendências musicais sem a burocracia que às vezes é associada às grandes corporações.
É verdade que as grandes editoras podem ter um alcance global significativo e recursos financeiros para promover um grande sucesso.
Mas, sabes, para nós, também podemos ter grandes sucessos. Talvez possamos torná-los globais. Podemos fazê-los crescer o suficiente para que se tornem importantes para a nossa comunidade. E mantemos a visão intacta.
Como uma editora independente, realmente tens que dar 110%. Não podes fazer as coisas a meio. Muitos dos grandes DJs com quem trabalhamos, como Louie Vega, Kenny Dope, Oscar G e Josh Wink, são também meus amigos.
Portanto, é como se o pessoal e o negócio estivessem misturados. Não sinto realmente que o tempo seja um problema, porque é algo que realmente gosto. É muito gratificante, mesmo que exija muito trabalho. Além disso, também nos envolvemos nos eventos.

Quando se lida com editoras maiores, de repente tens dez pessoas diferentes a querer tomar decisões sobre como a música deve soar!

Em relação ao streaming e à distribuição digital, o que achas de tudo isto? Achas que apenas as grandes plataformas como o Spotify lucra com o streaming? Há uma preocupação com as editoras e os artistas?
Há vários pontos a considerar. O Spotify e outras plataformas de streaming têm desempenhado um papel significativo na forma como as pessoas consomem música hoje em dia. Embora essas plataformas tenham obtido lucros consideráveis, também têm parcerias com editoras e pagam direitos de autor aos artistas e compositores com base nas reproduções das suas músicas, embora a distribuição dessas receitas possa variar dependendo dos contratos e das negociações individuais.
No entanto, também é importante notar que o modelo de negócios da indústria da música mudou significativamente com a ascensão do streaming, e as editoras tiveram que se adaptar a essa mudança. À medida que as vendas físicas de CDs diminuíram, as receitas provenientes das plataformas de streaming tornaram-se uma parte cada vez mais importante do panorama da indústria da música.
As editoras tinham melhores resultados quando se tratava de vendas físicas, porque podiam controlar os preços e tudo o mais. Mas acho que está a ficar um pouco mais justo.
Neste momento, a diferença entre o que ganham em comparação com o que pagam é incrivelmente pequena. Não é justo de todo. E tudo se resume a negociação. É uma luta contínua para tornar as coisas mais justas. Mas acredito que eventualmente chegaremos lá. E depois tens países como a China e a Índia que não pagam royalties, imagina se eles o fizessem! Por agora estamos basicamente restritos à América do Norte e à Europa Ocidental. O Japão paga mas eles estão mais voltados para a sua própria música. É como a música da cultura ocidental.
Em relação aos artistas acredito que tratamos todos de forma justa. Temos um bom sistema de royalties onde todos recebem o que merecem com base no que vendem, e isso funciona para nós.

Lançamos cinco temas por semana. É muito, é um pouco louco!

A Nervous lança temas todas as semanas. Há alguma razão especial para isso?
Sinto que a quota de mercado também está relacionada com a atenção. Portanto, se tiveres lançamentos que estão constantemente a aparecer, vais manter a atenção do público, do ouvinte e do DJ. Por isso, acredito que funciona porque, cada vez mais, quando vou a clubs e festivais, ouço mais temas da Nervous.
O público acostumou-se a isso com as redes sociais, que são uma constante entrada de diferentes imagens e postagens. E é muito difícil, porque cada lançamento merece a sua própria atenção. É um grande esforço, mas funciona para nós porque acredito que mantemos o interesse do público. Antigamente, a quota de mercado era apenas sobre vendas.

Quantos lançamentos fazem por semana?
Lançamos cinco por semana. É muito, é um pouco louco! Mas também há a questão de que hoje em dia as probabilidades de conseguir um grande sucesso são muito pequenas. Quero dizer, tivemos esta faixa, “Da Fonk” de Mochakk. Essa é realmente grande… e muitas das músicas do Louie Vega são realmente grandes na comunidade de house music e permanecem.
Mas é muito difícil conseguir aqueles temas que as pessoas queiram continuar a tocar vezes sem conta. As probabilidades são de que não vais ter assim tantas, mas não podes apenas concentrar-te nisso. Acredito que tens de manter o interesse do público.
Como disse, temos o Andrew Salsano, que é realmente excelente no A&R e também temos três consultores de A&R em diferentes partes do mundo que estão constantemente à procura de novos projetos.

Procuram principalmente artistas estabelecidos ou também novos talentos?
Os novos talentos são ótimos. No entanto, a questão sobre os novos talentos é que é muito raro ouvir alguém com um som novo e fresco. Isso é o mais importante. Sinto que as pessoas esperam que estejamos sempre na vanguarda. Portanto, não podemos lançar algo que soe como tudo o resto que está disponível. Sempre dizemos às pessoas para nos darem algo um pouco diferente. Obviamente, um DJ vai tocar um estilo que é de certa forma semelhante durante o seu set de três horas ou seja qual for a duração. Mas é importante empurrar um pouco os limites para tornar a música interessante. Sinto que essa é a nossa responsabilidade, encontrar o próximo talento que seja bom, mas que esteja a explorar novos territórios sonoros.
Mas não é necessário ser um artista estabelecido, de todo. Honestamente recebemos uma avalanche constante de pessoas que nos contactam, seja pelo instagram, facebook, e-mail… somos quatro pessoas e fazemos o nosso melhor para ouvir tudo… é quase impossível mas fazemos o nosso melhor!

A questão sobre os novos talentos é que é muito raro ouvir alguém com um som novo e fresco!

Recentemente lançaram um disco de um produtor português, JC Delacruz e também têm muitas colaborações com o DJ Chus de Espanha. Acham que Portugal e Espanha podem ser boas fontes de música para a Nervous?
Espanha, Portugal e mais recentemente o Brasil e a Colômbia têm sempre sido ótimas fontes de música para nós. Estamos baseados em Nova Iorque, por isso, em primeiro lugar, o nosso público inclui uma grande audiência latina em Nova Iorque. E temos uma forte presença em Miami. Sinto que a Nervous sempre foi muito acolhida e abraçou a comunidade latina, tanto com a música como com a cultura e os eventos. Portanto, sempre houve um fluxo muito saudável. E o Chus é um dos produtores mais talentosos do mundo. Sempre que colaboramos com ele tem sido um grande sucesso.
A comunidade latina é gigantesca atualmente na comunidade musical mundial, com artistas como Bad Bunny ou a Karol G. Ela esgotou o Madison Square Garden durante três dias… É enorme. A comunidade latina sempre teve uma paixão incrível pela música, por isso é uma cultura fantástica.

E outros países que são fontes de produtores?
Sinto o mesmo sobre Itália, que sempre teve um amor intenso pela house music. Inglaterra, claro, Londres e Nova Iorque sempre tiveram uma ligação especial. Mas de alguma forma, Espanha e Itália realmente abraçaram a música de forma única, por isso esses têm sido ótimos mercados para nós. O Brasil também nunca foi tão prolífico, estamos a receber muitas faixas excelentes. Sinto que o Mochakk explodiu e agora todos os brasileiros estão a pensar “Wow, também podemos fazer isso”… e adicionam o seu próprio toque ao estilo que ele está a fazer.

A percussão é a forma mais fácil de criar algo que funcione!

Como defines o som da Nervous e que conselhos darias a um novo produtor que queira lançar pela editora?
Enviem a demo! (risos…) Diria, em primeiro lugar, que a percussão é fundamental e deve ser fresca, porque é tão fácil produzir hoje em dia com todo o software, plugins e samples disponíveis. Nós somo uma editora orientada para a pista de dança. Fazemos música para os club’s. Se ela cruzar para a rádio, ótimo, mas essa sempre foi a nossa ênfase. Mesmo quando lançamos hip hop ou techno, tem de funcionar na pista de dança. E depois, para além disso, fazer uma música que ressoe, porque não é uma música no sentido antigo, com verso e refrão. É mais uma melodia ou algum gancho, algo que a faça destacar… isso é a parte mágica.
Mas digo sempre a todos os produtores, a percussão é forma mais fácil de criar algo que funcione… e tenho dito isto a pessoas desde 1992, quando comecei pela primeira vez: “encontra o produtor que adoras e basicamente copia-o”. Porque é esse o estilo que gostas e que te inspira. Pegas nele e fazes a tua própria versão. Mas se esse estilo estiver a bombar, então será bom. Todos copiam alguém.

No Beatport e no Traxsource, há cerca de 5.000 lançamentos por semana… é incrível quantos são. É muito fácil as faixas passarem despercebidas.

Como trabalham atualmente a promoção de um tema, ainda enviam promos para os principais DJs ou rádios?
Sim, ainda o fazemos. Usamos alguns serviços de promoção muito bons e colocamos pessoas nessa lista. Mas, sabes, ainda sinto que, como lançamos tantas músicas, apenas algumas delas se destacarão e funcionarão. Aquelas que funcionam de alguma forma conseguem criar um buzz. Conhecemos pessoas suficientes individualmente, entre mim e os membros da equipa, para chegar a umas dez pessoas e essas pessoas podem criar um buzz, e depois isso continua a espalhar-se. Portanto, acredito que ainda é a melhor forma de o fazer, envolvendo os “taste makers” (pessoas influentes na indústria musical). Esses “taste makers” não podem ser influenciados de forma falsa quando se lhes envia uma faixa. Certas pessoas-chave, como Louie Vega, com quem trabalho muito, são como irmãos para mim. Quando ele me liga e diz que algo é bom, sei que é bom, e ele nunca falha, sempre prevê com antecedência, ele tem um ouvido incrível.
Mas claro que enviamos um tema para muitas pessoas, porque é uma questão de respeito pelo produtor que fez a faixa, garantir que ele seja exposto, porque, uma vez que a faixa está disponível no Beatport, Traxsource, Spotify, YouTube e todos os outros a competição é intensa. No Beatport e no Traxsource, há cerca de 5.000 lançamentos por semana… é incrível quantos são. É muito fácil as faixas passarem despercebidas.
Portanto, sinto que esse é o nosso trabalho, fazer o que pudermos para manter a faixa viva através das redes sociais, porque, quanto mais se espalhar, maior será a probabilidade de a faixa se destacar quando for lançada e não ser esquecida.

Quais são os países com maior número de vendas para a Nervous Records?
Os Estados Unidos têm sido sempre o número um, simplesmente porque são tão grandes. Mas acredito que, em termos de apoio que sempre recebemos, sinto que é igualmente forte em todos os países europeus e no Japão. Ao ver as vendas de merchandise elas vão sempre para esses países.

Essa parte do merchandise ainda é uma importante fonte de receita para a editora?
Sim, o merchandise sempre foi… em determinado momento, o merchandise era incrível. Cheguei a ver t-shirt’s da Nervous em aeroportos na Europa. Wow! Tínhamos grandes acordos de licenciamento. Não é tanto agora, porque trouxemos tudo para dentro de casa, mas ainda é muito saudável.

Os eventos ao vivo são para a editora como os concertos ao vivo para os artistas.

E mais recentemente envolveram-se nos eventos…
Sim, os eventos cresceram bastante. A vida noturna em Nova Iorque é muito movimentada. Acho que ninguém previu que as discotecas com DJs em Nova Iorque seriam tão grandes. Há tantos locais e tantos DJs a tocar. Há apenas 10 anos, havia apenas três clubes que tocavam house e techno. Era só isso. E os DJs da Europa nem sequer paravam aqui porque não havia onde tocar. Agora há tantas opções. Por isso, estamos num cenário muito ativo. Tem sido muito positivo para nós, o jogo da vida noturna. Os eventos ao vivo são para a editora como os concertos ao vivo para os artistas.

Como vês a cena atual de música eletrónica nos Estados Unidos?
Em Nova Iorque fecharam clubes lendários há algum tempo. Twilo, Pacha, Cielo, todos fecharam porque o mercado imobiliário de Manhattan ficou demasiado caro. Mas tudo se mudou para o Brooklyn. O Brooklyn é agora centro da vida noturna de Nova Iorque. Miami também está muito saudável.
A cultura de DJ na América em geral é enorme, ninguém previa que seria tão grande, com eventos como o EDC em Las Vegas, onde juntam cerca de 600.000 pessoas em três dias. São números enormes.
A única preocupação que vejo é que o negócio está a crescer tanto e as grandes corporações estão a tentar entrar. O que torna a cena de DJ e club’s tão interessante é quando são pessoas com visão e paixão a liderar, e as grandes corporações só se especializam em ganhar dinheiro e o que vão fazer é reduzir. Sabes, ás vezes os artistas e a visão são caros, mas basicamente tens de deixar as pessoas fazer o que fazem, são criativos…. A vida noturna e a música de club’s não devem ser formatadas, não devem ser encaixadas numa caixa apertada no que “devem ser”. Espero que isso não leve a uma redução da criatividade de alguma forma. Quero dizer, nós nunca seremos assim, sempre faremos o que pudermos para inovar, mas vejo grandes negócios a envolverem-se…. Não sei qual será o resultado final disso.

Também a envolverem-se nos clubs…
Sim, e a melhor coisa na vida noturna, para mim, sempre foram os club’s com cerca de quinhentas ou seiscentas pessoas. Um local cool, uma vibração, bom som e iluminação, mas agora não há tantos assim. Temos club’s para seis mil pessoas ou club’s para trezentas ou duzentas pessoas, não há nada no meio. E o que aconteceu ao meio? O meio é onde está a saúde. Isso é realmente a cena de DJ.
Com 600 pessoas, tens uma vibração, tens uma comunidade, mas ainda consegues ter um impacto na pista de dança. É disso que precisamos mais e isso está a desaparecer porque esses club’s são difíceis de rentabilizar no ambiente atual.

Mas há uma cena saudável de house e techno nos EUA? Já não é tanto sobre EDM…
Bem, o que aconteceu com o EDM? Muitos dos DJs mais comerciais começaram a usar a palavra house music e dizem que é o que estão a fazer, mas na realidade não estão.
Continuam a fazer coisas muito comerciais, mas é como uma maré crescente que eleva todos os barcos. Acredito que a palavra house music está a ganhar cada vez mais destaque e é bom para todas as pessoas do núcleo, como eu e pessoas que realmente apoiaram o género ao longo de tantos anos. Mas tens de trabalhar arduamente. Nunca podes ficar preso ao passado. Por isso, se a música house evoluir, nós ainda manteremos as coisas vanguardistas, mas evoluiremos na direção que ela tomar.

E como vês eventos como a Winter Music Conference, que entretanto mudou para Music Week, em Miami, e o Amsterdam Dance Event, na Holanda? São eventos importantes para a editora?
Sim, o Amsterdam Dance Event é sempre muito importante. Estaremos lá este ano. Estivemos lá quase desde o início. Porque é uma forma de todos os DJs, produtores e editoras se reunirem. Costumava ser um pouco melhor, penso eu, quando era mais concentrado no hotel Felix Meritis. Agora está espalhado por todo o lado, mas ainda é bom. E depois a Winter Music Conference, mudou, agora é como uma semana de música. Antes havia o Hotel Fontainebleau. Toda a gente ia para lá e encontrava-se. Agora não é tanto assim, há muitos eventos diferentes, mas ainda é uma parte definidora do ano em que queres pelo menos preparar a tua editora com muitos lançamentos novos, muitas coisas em destaque. Por isso, acredito que esses dois eventos são realmente bons.

E o verão em Ibiza? Sei que estiveste lá há poucos meses.
Sim, é incrível porque a vida noturna e a música de club’s são uma parte enorme da ilha. Essa é a Meca para nós durante o verão. Agora tens o Ibiza Summit (IMS), que também é bom. Fui lá uma vez, mas sinto que tens de ir, se estás na indústria, é importante ir pelo menos uma vez só para sentir a energia e ver o que está a acontecer.
No nosso caso conheço Nova Iorque tão bem e sei o que funciona e como as pessoas se ligam à Nervous aqui, mas ligam-se de forma diferente no estrangeiro, por isso é sempre bom ir para fora para sentir qual é a vibe. Não sabes realmente como é a não ser que vás.

Quais são os projetos da Nervous a curto prazo?
Bem, por exemplo o Louie Vega e o Josh Milan produziram um EP de uma artista chamada Anané, que é uma grande cantora. Ela nunca teve realmente aquele grande lançamento que a tornasse famosa, mas desta vez fizemos um vídeo musical, estamos a preparar um grande pacote de vinil para ela, por isso estou muito entusiasmado com isso… também temos um lançamento do Teddy Douglas dos Basement Boys, que já remisturou grandes êxitos ao longo dos anos…

Não sei se as pessoas estão a comprar vinil para ouvir ou apenas para ter como decoração para a casa!

E alguns eventos que destaques?
Sim, todos os anos fazemos um evento chamado Legends em Nova Iorque, que é sempre com os veteranos da indústria. E este ano vai ser a 16 de Dezembro, no Knockdown Center, em Queens. O Louie Vega também faz uma festa chamada Flashback, em que toca clássicos durante toda a noite… as pessoas adoram clássicos! Costumamos fazer isso perto do Dia de Ação de Graças, que é uma altura importante em Nova Iorque, e claro, o Halloween é uma grande, grande festa.
Há também uma DJ chamada Cinthie, de Berlim, que está muito em voga em Nova Iorque. Ela ainda não tocou em Brooklyn, por isso esta vai ser a primeira a 28 de Outubro, numa nova discoteca chamada Silo.
Mas temos eventos praticamente todos os fins de semana. Muito trabalho mas muito bom!

E o vinil? O que achas deste regresso? Têm planeado lançar mais temas em vinil?
Sim, estamos a fazer cada vez mais vinis porque há realmente uma procura para eles. Não sei sequer se as pessoas os estão a comprar para os ouvir ou apenas para os ter como decoração para a casa (risos…). Mas estamos a tentar fazer mais porque estão a vender.

Mas são edições só para alguns artistas…
Sim, vamos criar edições especiais. Por exemplo o Danny Tenaglia lançou recentemente um grande sucesso connosco chamado “Move Your Body” e lançámos uma versão em vinil . O vinil funciona quando se trata de artistas mais reconhecidos. Nomes lendários realmente têm o seu peso e atraem público. Mas não temos a certeza se as pessoas os tocam nos pratos… não sei… vendem-se tantos. E alguns clubs já nem têm gira-discos e nem toda a gente tem um gira-discos em casa.

Eu tenho! ahahah.
Ahahah, óptimo!

texto: Nuno Rodrigues
foto: offbrandproject

By Nuno Rodrigues