ADE 2023 – o “mundo” em Amsterdão

A capital holandesa voltou a ser o ponto de encontro da música eletrónica mundial… e a Dance Club também esteve lá!

No passado mês de Outubro, e pela 28ª vez consecutiva, Amesterdão transformou-se no epicentro da música eletrónica. Cerca de 3000 artistas foram convidados a espalhar magia pela cidade com atuações, seja como DJs, live acts ou mesmo palestrantes. Este evento, que já é uma tradição da cidade, atrai amantes de música eletrónica de todo o lado, e a cidade recebe-os de braços abertos, vestindo-se com as cores da festa em tons de amarelo e preto, reconhecendo o Amsterdam Dance Event como parte integrante da sua identidade cultural. Uma integração que, sinceramente, poderia servir de exemplo para muitas cidades, incluindo as nossas em Portugal, sendo que nós já fomos uma das grandes referências da cena eletrónica e deixámos a coisa esfumar-se…

Para os curiosos que estão a descobrir este universo pela primeira vez, o ADE não é apenas um festival ou uma conferência. É uma mistura de ambos. Desenhada para agradar aos gostos mais exigentes dos amantes de música eletrónica, abrangendo praticamente todos os géneros existentes, desde o mais estranho dub techno até aos super hits da cena mainstream, o ADE é como um hipermercado, onde encontramos de tudo um pouco, com uma oferta vasta e de qualidade máxima em todos os géneros musicais e para todos os gostos. Temos de lhes tirar o chapéu, pois ao longo destes quase 30 anos de existência, os holandeses conseguiram transformar o ADE na meca da dance music, ultrapassando em muitas voltas o famoso Winter Music Conference de Miami, e tornando-se no local de peregrinação anual obrigatória para quem aspira a brilhar neste mercado ou é um sério player do mesmo.

Por isso, quando se decidirem em aventurar-se por esta jornada anual do ADE, aconselhamos a descansar bem nas semanas anteriores, porque a experiência lá é intensa. Muito intensa e praticamente impossível de absorver na sua totalidade, mesmo para os mais dedicados à causa! E isto porquê? Bem, por uma “simples” razão, é que estamos a falar de mais de 1.000 (sim MIL!) festas durante os cinco dias do ADE, isto sem contar com as inúmeras palestras, seminários, workshops, demonstrações de equipamento, laboratórios de produção musical, incursões pelo mundo WEB3 e NFTs, entrevistas, ensaios, showcases, entre muitas e muitas e muitas outras atividades…fora outros eventos não oficiais que também sabemos que acontecem… É realmente de loucos, no bom sentido! 🙂

Para quem procura fugir do mais do mesmo, o ADE também é mestre. A diversidade é a palavra de ordem, desde set’s ecléticos no Rijksmuseum (conforme o nome, é um museu!), performances inesquecíveis em locais inusitados (tudo pode acontecer sem estarmos à espera, como uma rave instantânea numa loja de comida para animais) até à energia contagiante dos diversos palcos, clubs e locais históricos que proporcionam uma sinfonia única para todos os gostos musicais. Garanto-vos que todos os estilos estão representados no ADE! É verdadeiramente fascinante e enriquecedor, construindo se a cada vez uma experiência que deveria ser obrigatória para qualquer apreciador de música eletrónica (que se preze), pelo menos uma vez na vida!

A falar de experiências sensoriais, tivemos momentos tão contrastantes durante este último ADE que é difícil até expressar tudo neste review. Desde uma visita ao Melkveg, um clube de renome no centro da cidade, onde mais de um milhar de pessoas dançavam ao som de um dub techno industrial – e isto às 23h – e que fazia as obras do Aphex Twins parecerem mainstream, até à festa do Maceo Plex com Raxxon num parque de estacionamento, que se destacou pela surpresa do espaço, e talvez aquela numa espécie de barco onde tínhamos a hipótese de saltar a meio do caminho, como se fosse um autocarro, organizada pela Gardens of Babylon. Resumindo, todos os DJs da vossa preferência estavam lá a tocar em algum lado, ou pelo menos 95% deles! Como no último dia da festa (domingo), demos por nós numa espécie de festa dos sobreviventes  que começou de tarde e seria quase um after dos afters, onde artistas, amigos, raver’s e simpatizantes todos se encontraram nesse spot que era meio aberto e tinha de tudo, desde comida em barraquinhas.

Foram tantas as festas e DJs que testemunhámos que é complicado relatar tudo sem acabar com o vosso limite de GB da net. Se tivermos de escolher um TOP must-go, destacaríamos duas festas grandes e obrigatórias! São duas vertentes opostas: o Awakenings no Gashouder, a festa de techno mais destacada do ADE, onde, numa espécie de nave alien (o Gashouder era um silo de armazenamento de gás, e por dentro parece o interior de um ovni), milhares de fãs de techno juntam-se para curtir uma das melhores experiências. Além do line-up sempre respeitável, o mais interessante é a forma como a noite evolui. Tudo começa com pouca luz e um warm-up muito bem feito pelos primeiros DJ’s. À medida que as horas vão avançando, não param as surpresas, com luzes, lasers, uma bola de espelhos gigante que desce do tecto e é “atacada” por lasers de todo o lado, pirotecnia de interiores e fogo de artifício, vídeo mapping, projeções etc. É realmente algo único a ser vivido em primeira pessoa! O Awakenings este ano teve várias edições no GasHouder e também contou com outra fora para dar um pouco de variedade aos fãs da marca que queriam “mudar de ares”!

Do outro lado, temos o AMF – Amsterdam Music Festival, que é sempre uma produção incrível no Ajax Stadium para quem é adepto de mainstream e EDM! Tudo o que se pode imaginar de topo de gama em som, luz e afins é usado e abusado e em quantidade no AMF! O CO2 é usado como se fosse ar condicionado, algo quase impensável em qualquer outra parte do mundo pelo alto custo de cada botija, mas ali é o AMF e não se poupa em nada! A ALDA e a Insomniac, que são as marcas por detrás do AMF, costumam atacar forte sempre com os gigantes do EDM, e este ano não foi diferente: Afrojack, Armin van Buuren, Dimitri Vegas & Like Mike foram os headliner’s, com nomes como James Hype, Meduza e Purple Disco Machine, Headhunterz e Vini Vici. Antigamente (pré pandemia) era nesta festa que a DJ MAG costumava fazer o anúncio dos TOP 100 DJs do ano, quase que se aproveitando do início da festa ao formato warmup para fazer o seu famoso countdown dos 100 DJs e que culminava com a atuação do DJ N1 do mundo desse ano…pena que acabaram com esse conceito que acabava por ser mais um motivo para fazer a visita ao Amsterdam Music Festival.

Mas há mais… muito mais, pelo menos 995 festas que não vos trouxemos aqui. Podemos resumir desta forma: há uma festa a acontecer no ADE para todos os gostos musicais e de todos os tamanhos, de 40 pessoas a 40.000! É também uma boa oportunidade para curtir muita música nova que é apresentada nelas, mas fica a dica, escusam de usar o Shazam! 🙂

Mas, festas à parte, a programação diurna do ADE tem também de ser aproveitada ou o grau de culpa nos meses seguintes vai vos consumir por dentro! Ahahahah!

Vamos explicar um pouco as áreas pelas quais o ADE está distribuído:

A ADE Pro Conference é o ponto de encontro para os visionários da indústria da produção musical. Líderes globais, artistas renomados e especialistas em tecnologia reúnem-se para debater o futuro da música eletrónica, destacando o impacto da Inteligência Artificial. Nomes como Grandmaster Flash, The Blessed Madonna, Röyksopp e Max Cooper lideraram painéis na última edição, proporcionando insights valiosos sobre os possíveis rumos da indústria.

O ADE Lab é como um santuário de aprendizagem e oportunidades para os aspirantes a artistas. Mais de 2.000 jovens talentos participaram em workshops, masterclasses e demonstrações, oferecendo uma plataforma para o desenvolvimento e conexões valiosas. O ADE Lab não só iluminou o caminho para a próxima geração de artistas, mas também reforçou o compromisso do ADE em impulsionar o futuro da música eletrónica.

ADE Green destaca-se como um guia de sustentabilidade e responsabilidade social. Debates, workshops e iniciativas inovadoras exploram o papel da música eletrónica na promoção de práticas ecológicas, com artistas como Jayda G, Laidback Luke e Juba a darem voz a questões cruciais, como eventos climáticos neutros, energia renovável e saúde mental – uma ênfase mais marcada agora, especialmente após a pandemia.

Mais uma vez, o ADE transcendeu as fronteiras da música e fundiu-se com outras formas de arte. Performances audiovisuais imersivas, instalações interativas e exposições inovadoras exploraram a interseção da música eletrónica com a arte, o design, a moda e a cultura urbana. O festival/conferência transformou-se numa celebração multidisciplinar da criatividade em todas as suas formas. Foi mais do que um evento; foi uma celebração efervescente da música eletrónica em todas as suas possíveis formas.

Ao olharmos para o horizonte do ADE 2024, que já aceita inscrições para vendas no formato early bird (e que recomendamos comprar o quanto antes porque o preço é um pouco amargo e só piora quanto mais perto da data), a promessa de uma nova jornada eletrónica aguarda-nos, pronta para transcender as fronteiras da música e definir o futuro sonoro que nos espera. Neste sentido, será interessante explorar ainda mais a cidade de Amesterdão, com os seus canais pitorescos, arquitetura única e história rica que se entrelaça com a evolução da música eletrónica na cidade. Além disso, podemos mergulhar mais profundamente no mercado internacional de música eletrónica, examinando como o ADE influenciou e continua a moldar as tendências globais, promovendo a diversidade e a inovação.
Encontro marcado para Outubro 2024 nesta “odisseia eletrónica” que é o ADE.
See you there!?

 

By 3-CPO